Fisioterapeuta que acompanhou apresentador durante o uso de um exoesqueleto robótico contou detalhes sobre como a tecnologia pode ajudar na reabilitação Fernando Fernandes usa exoesqueleto robótico Na última terça-feira (20), Fernando Fernandes encantou seus seguidores das sociais ao publicar um vídeo onde aparece caminhando com a ajuda de um exoesqueleto robótico, um equipamento usado no processo de reabilitação de pessoas que não podem mais andar por conta de alguma lesão. Tetraplégico desde 2009, o apresentador escreveu sobre como foi a sensação de ver as pernas em movimento depois de tantos anos. "Depois de 14 anos sem ver e nem imaginar minhas pernas em movimento, pude reacender uma chama que em mim havia se apagado (...) Confesso que ter a sensação de andar e por incrível que pareça, pude sentir meus pés tocar o chão, apesar de não ter a sensibilidade, isso me sacudiu por dentro". Fernando Fernandes usa exoesqueleto robótico de alta tecnologia para treinar caminhada Reprodução/Instagram Para entender como o equipamento funciona e quais benefícios pode proporcionar aos seus usuários, o gshow conversou com o fisioterapeuta Thiago Ribeiro Pires, profissional que acompanhou Fernando Fernandes no uso do exoesqueleto. O que é o exoesqueleto robótico? Em uma definição simples, exoesqueleto robótico é o nome dado a uma cobertura rígida que sustenta o corpo ao mesmo tempo que permite, por meio de articulações, que seu usuário se movimente. De acordo com Thiago Ribeiro, o equipamento usado por Fernando conta com uma tecnologia avançada que permite um treino totalmente personalizado para cada paciente. "Essa tecnologia permite que a gente faça um treino locomotor com suspensão parcial de peso. É a gente quem define, durante o treinamento, os ângulos de quadril, os ângulos de joelho, os ângulos de tornozelo, a velocidade, a cadência e a métrica da marcha, além de oferecer para o paciente o melhor alinhamento biomecânico possível", explicou. Desse modo, o exoesqueleto sustenta o corpo do paciente e, com ajustes precisos e personalizados para o corpo de cada usuário, permite que ele treine a marcha de uma forma mais eficiente. "Essa é a melhor tecnologia que existe no mundo para o processo de reabilitação do paciente que tem algum tipo de lesão cujo acometimento é a dificuldade ou perda da marcha humana", definiu Thiago. A tecnologia não está apenas na sustentação e movimento do corpo: durante o treino, gráficos mostram como os grupos musculares das pernas estão trabalhando, o que permite trabalhar a reabilitação não só o retorno à marcha (voltar a andar), mas também uma série de benefícios secundários. Fernando Fernandes usa exoesqueleto robótico de alta tecnologia para treinar caminhada Reprodução/Instagram Muito além de voltar a andar De acordo com o especialista, pacientes que fazem a reabilitação robótica colhem ganhos que não só voltar a andar – e eles são percebidos tanto no corpo quanto na mente. Dentre os benefícios estão: A prevenção de osteoporose (perda de massa óssea) de membro inferior; O controle da sarcopenia (perda de massa e de força) dos grupos musculares de membro inferior; A melhora da dor neuropática (dor crônica causada por danos nos nervos); A prevenção de deformidades; A redução de inchaço nos pés e tornozelos; A melhora do trânsito intestinal. "É sempre uma motivação, uma sensação incrível para o paciente poder simular a marcha exatamente como era antes do fato de ocorrência da patologia. A gente já sabe e está bem escrito na literatura médico-científico os ganhos do aspecto, além de fisiológico, psicológico". O objetivo final de voltar a andar depende de fatores como a fase em que o paciente está: na fase aguda (no início do quadro), o objetivo é minimizar as perdas e maximizar os ganhos funcionais, então a intervenção é mais intensa e pode envolver trabalhos diários com o exoesqueleto. Já quando o paciente está em fase crônica (por um período mais longo), a abordagem envolve uma intensidade menor, com trabalhos de uma a duas vezes por semana. "Se a gente está almejando do paciente agudo um ganho funcional da marcha, eu tenho mais intensidade de trabalho por uma periodicidade que pode variar entre três e seis meses. O paciente crônico, aquele que vai só se beneficiar dos ganhos secundários, ele vai ter trabalhos maiores de um a dois anos, podendo chegar ao tempo sem limite de trabalho, visando a manutenção desses ganhos secundários e a prevenção também dos acometimentos por estar sentado, por não ter uma marcha funcional", explicou Thiago. Fernando Fernandes Reprodução/Instagram Quanto custa o tratamento com o exoesqueleto robótico? Thiago Ribeiro Pires conheceu o exoesqueleto em 2009 por intermédio de um paciente que fez tratamento com a máquina no exterior. Devido ao alto custo da tecnologia – cerca de R$ 1,9 milhão –, o primeiro equipamento para uso privado (ou seja, fora da rede pública de saúde) só chegou ao Brasil em 2020 como resultado fruto de uma parceria entre Thiago e o pai de um paciente. Aos poucos e com propostas de outros sócios, novas máquinas foram compradas e espalhadas pelo país: as cidades de Goiânia, Salvador, Brasília, São Paulo, Petrolina já contam com a tecnologia. O valor do tratamento com o exoesqueleto robótico varia de acordo com a quantidade de sessões realizadas, sendo que cada treino custa cerca de R$ 400. "Digamos que esse paciente vai fazer duas sessões semanais, certo? Então ficaria R$ 800 por semana, vezes 4, dá R$ 3.200. Dependendo das condições a gente consegue fazer R$ 3 mil por mês. Depende de como ele vai pagar, se vai precisar de recibo, mas essa a média é R$ 3 mil", disse o especialista. Influenciador Elder Souza Santos Reprodução/Instagram Usando o exoesqueleto na prática O influenciador Elder Souza Santos ficou tetraplégico em 2019 após mergulhar em um rio raso e sofrer uma grave lesão na medula. Junto com a esposa Maira Lazarini, ele mostra sua rotina nas redes sociais e há dois meses o exoesqueleto faz parte da sua reabilitação. Ao gshow, Elder falou sobre sua experiência com o equipamento. "Faz dois meses que eu tô aqui em São Paulo já fazendo essa reabilitação com esse esqueleto e tem sido fantástico. Melhorou muito o meu controle de tronco, onde eu fico de pé ali. Eu consigo fazer força para manter a minha coluna o mais reto possível e as pernas também. Ele tem um gráfico onde dia por dia eu vou acompanhando a evolução do ganho de força, ele mostra tanto o quanto o quadril tá movimentando, quanto o joelho tá tendo ali a força para para esticar, para dar a passada". Influenciadores Elder Souza e Maira Lazarini Reprodução/Instagram O influenciador contou que já fazia o tratamento de reabilitação antes, mas que o grande diferencial da nova tecnologia é que ela gera ganhos que aceleram a recuperação. "Eu tinha muita espasticidade, que são os nervos fazendo movimentos involuntários, e com o treino da marcha todo dia isso diminuiu muito. Ganhei controle de tronco, melhorou o meu intestino, a vertigem, parei de ficar dando aqueles desmaios, porque a gente tá ficando de pé todo dia, né? E sem contar que para o emocional a gente é fantástico saber que eu vou ficar de pé todo dia por uma horinha, eu fico contando", disse. Em busca do sonho de ficar de pé e voltar a andar, Elder encoraja que pessoas em condições parecidas não desanimem de buscar mais qualidade de vida. "Hoje a gente tem uma página no Instagram onde contamos a nossa rotina e eu tento conscientizar as pessoas a não desistir, a ver que é possível ter uma vida feliz com a qualidade de vida. Eu sempre prego bastante ali sobre o uso da reabilitação do exoesqueleto, porque é muito bacana a experiência, a sensação, os resultados. E para aqueles que conseguir ter acesso, super vale a pena, eu super indico mesmo", concluiu. Influenciador faz treino em exoesqueleto robótico usado por Fernando Fernandes Mais Lidas