Nascido na Bélgica, Andreas Pereira puxa fila de 12 atletas oriundos da Europa espalhados por oito equipes diferentes da América do Sul, todos com dupla nacionalidade por relação familiar Ancelotti destaca criatividade dos meio-campistas da Seleção
Nesta quinta-feira tem início mais uma rodada das Eliminatórias da América do Sul para a Copa do Mundo do ano que vem. Entre as 10 seleções em disputa, chama atenção que oito delas contam com pelo menos um jogador nascido na Europa. Fruto do mundo globalizado, onde uma pessoa chega a ter mais de duas nacionalidades entre local de nascimento e laços de sangue.
No total, 12 atletas nascidos na Europa estão espalhados por oito diferentes seleções. Em todos os casos, a premissa é a mesma. Isto é, jogadores com alguma relação de ascendência com o país sul-americano em questão. A maioria nunca jogou no país, e alguns sequer falam espanhol fluente.
Colômbia e Paraguai são as únicas seleções sem europeus de nascimento no elenco atual. Os paraguaios, porém, contam com quatro jogadores argentinos e um brasileiro de dupla nacionalidade. Ou seja, o selecionado colombiano é o único com 100% dos atletas oriundos do próprio país.
Veja a tabela das eliminatórias da Copa
Convocado por Ancelotti, Andreas Pereira nasceu na Bélgica
Ettore Chiereguini/AGIF
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A título de comparação, o movimento contrário também é bastante comum. O volante Jorginho, por exemplo, prestes a ser anunciado como novo jogador do Flamengo, joga pela seleção da Itália, por ter ascendência através do avô. Outro exemplo, esse distinto, é de Mário Fernandes, lateral brasileiro que pôde jogar pela Rússia por tempo de moradia no país.
Como já citado, os 12 jogadores europeus na atual janela das Eliminatórias Sul-Americanas têm relação direta com o país em questão. A começar pelo brasileiro da lista, Andreas Pereira. Belga de nascimento, o meio-campista do Fulham é filho de brasileiros, o que automaticamente lhe permitia defender as duas seleções. Inclusive, chegou a vestir o vermelho da Bélgica na adolescência, mas depois escolheu a amarelinha.
Abaixo, o ge lista os demais atletas:
John Yeboah (Alemanha) - seleção equatoriana
Meia-atacante de 24 anos, atualmente no Venezia, da Itália, Yeboah nasceu em Hamburgo, na Alemanha. Filho de pai ganês e mãe equatoriana, poderia atuar por qualquer uma das três seleções. Quando jovem, defendeu o time alemão em competições de base da Uefa. Em 2023, Yeboah obteve a documentação para ser convocado pela primeira vez pela seleção do Equador, onde soma 12 jogos e dois gols.
Veja cobrança de falta de Yeboah pelo Equador
Lawrence Vigouroux (Inglaterra) - seleção chilena
Outro caso de jogador com três nacionalidades. O goleiro de 31 anos, do Swansea, do País de Gales, é nascido em Londres, de pai chileno e mãe jamaicana. Desde cedo, porém, pareceu disposto a jogar pelo Chile. Em 2013, jogando na base do Tottenham, foi chamado para o Sul-Americano Sub-20. A primeira convocação para a equipe principal ocorreu mais de cinco anos depois, mas até hoje não entrou em campo.
Goleiro Lawrence Vigouroux em treino da seleção chilena
Arquivo pessoal
Alessandro Milani (Itália) - seleção venezuelana
Prestes a completar 20 anos, o lateral-esquerdo italiano atua na Lazio, onde ainda não estreou profissionalmente, mas esteve no banco de reservas em algumas partidas na última temporada. Com mãe e avó venezuelanas, Milani foi chamado pela seleção Vinotinto para o Sul-Americano Sub-20 no começo deste ano, disputado na própria Venezuela, e recebeu agora a primeira convocação para o time principal.
Alessandro Milani, jogador ítalo-venezuelano
Conmebol
Nico Paz (Espanha) e Giuliano Simeone (Itália) - seleção argentina
Dois casos de filhos de ex-jogadores da seleção argentina. Nico nasceu na Espanha em 2004, onde o pai, Pablo Paz (jogou a Copa de 1998), jogava na época. O meio-campista estreou profissionalmente no Real Madrid, no fim de 2023. Na temporada seguinte, seguiu para o Como, da Itália, onde teve destaque que pode fazer o Real recomprá-lo. Desde o ano passado, joga pela equipe principal da Argentina.
Giuliano, por sua vez, tem o sobrenome bem conhecido. Filho de “Cholo” Simeone, nasceu em Roma em 2002, quando o pai jogava na Lazio. Chegou a fazer base no River Plate, mas rumou à Espanha para jogar no Atlético de Madrid, onde debutou como profissional em 2022. Após empréstimos para Zaragoza e Alavés, retornou ao Atléti na última temporada, quando recebeu os primeiros chamados de Lionel Scaloni.
Veja lances de Giuliano Simeone, do Atlético de Madrid, no Campeonato Espanhol
Nicolás Fonseca (Itália) e Rodrigo Zalazar (Espanha) - seleção uruguaia
Os uruguaios também são filhos de ex-atletas da seleção. Nicolás é filho do ex-atacante Daniel Fonseca, que jogou a Copa de 1990 pelo Uruguai. Nasceu em Nápoles em 1998, quando o pai jogava na Juventus. Volante, passou pela base do Milan e começou no profissional do Novara, também na Itália. Atualmente defende o León, do México. Pela Celeste, é lembrado por Bielsa desde o ano passado.
Já Zalazar é nascido em Albacete, na Espanha, onde José Luis, o pai, atuava na época (jogou a Copa de 1986). Também meio-campista, Rodrigo é mais um que nunca atuou no país pelo qual defende entre seleções. Construiu toda carreira na Europa, e desde 2023 defende o Braga, de Portugal. Pelo Uruguai, já atuou em amistosos, mas recebeu agora a primeira convocação para as Eliminatórias.
Nicolás Fonseca, volante uruguaio do León, do México
Twitter/León
Oliver Sonne (Dinamarca) e Gianluca Lapadula (Itália) - seleção peruana
Atualmente jogador do Burnley, nascido na Dinamarca, Oliver Sonne Christensen, de 24 anos, não tinha relação com a seleção do Peru até cerca de dois anos atrás. O então treinador Juan Reynoso descobriu que o lateral-direito tinha ascendência peruana pela avó materna. Enquanto aprendia espanhol, Sonne foi convocado pela primeira vez no fim de 2023, e já acumula 10 partidas pela blanquirroja.
Oliver Sonne, dinamarquês da seleção peruana
Divulgação, FPF
Já Lapadula é um caso antigo e já conhecido. Natural de Turim, filho de mãe peruana, o centroavante de 35 anos fez toda a carreira no futebol italiano (hoje joga no Spezia) e chegou a defender a Azzurra em um amistoso em 2017. Porém, sem mais chances, voltou a ser sondado pelo Peru, país que havia recusado mais de uma vez, mas passou a jogar em 2020. Desde então, soma 42 jogos e nove gols.
Lucas Macazaga e Óscar López (Espanha) - seleção boliviana
Os dois casos bolivianos são parecidos, de jovens nascidos na Espanha e que sequer estrearam como profissionais por clubes. López tem 18 anos, filho de mãe boliviana, e joga no time B do Mallorca. No início do ano, participou do Sul-Americano Sub-20. Antes, o volante já havia sido chamado para a seleção principal e estreou nas Eliminatórias, entrando no intervalo em duelo com o Equador.
Macazaga também tem 18 anos e cidadania boliviana por conta dos pais. O lateral-direito compõe a categoria de base do Leganés. Ele também disputou o torneio sub-20 na Venezuela e foi chamado para a equipe principal já na janela anterior das Eliminatórias, mas ainda sem estrear. Na imprensa e nas redes sociais, o jovem chama atenção pelo visual parecido com Haaland, de cabelos loiros e coque.
Lucas Macazaga em treino da seleção boliviana
La Verde, divulgação
Outros casos
Ainda nas convocatórias para as próximas rodadas das Eliminatórias, há três jogadores nascidos fora da Europa (e da América do Sul, claro) que precisam ser citados. Na própria Bolívia, o zagueiro Efraín Morales, 21 anos, é natural de Decatur, estado da Geórgia, Estados Unidos, e joga no Atlanta United. Filho de pai boliviano e mãe porto-riquenha, atua em La Verde desde 2024 e já soma quatro jogos.
Já na seleção peruana, dois atletas são nascidos no Japão. Erick Noriega, zagueiro de 23 anos, nasceu em Nagoya, mas passou parte da infância no Peru. Na adolescência, retornou ao país asiático e passou times de lá, além de breve passagem pela Alemanha, até voltar à América do Sul em 2023. Desde o ano passado defende o Alianza Lima, quando foi chamado para a seleção e fez seu único jogo até então.
Kenji Cabrera, jogador peruano nascido no Japão
FCB Melgar
Por fim, Kenji Giovanni Cabrera Nakamura, mistura de mãe japonesa e pai peruano, natural de Shiga, no Japão, no ano de 2003. Ainda jovem, mudou-se para o Peru e deu início no futebol, passando pela base do Alianza Lima. Desde 2021, o meia-atacante atua no time profissional do Melgar e recebeu a primeira convocação do técnico Óscar Ibañez na janela anterior das Eliminatórias, mas ainda não entrou em campo.